Os Bolos da Ti Stina da Atalaia e da irmã
Estas duas almas eram duas costureiras da Atalaia que vinham às nossas casas “costurar ao dia” tal como o sapateiro vinha “fazer sapatos ao dia” (o sapateiro da Figueira).
Recebiam a jorna, almoçavam e até, por vezes, petiscavam umas “buchas”. Eram duas criaturas baixinhas, adoráveis, que com os seus xailes pretos pela cabeça onde sobressaíam um ou dois dentes da frente uma bengala e pequena trouxa na mão vinham muito cedo para trabalhar no Vale d’ Urso. Como tinham que fazer perto de 5 quilómetros teriam que levantar-se muito cedo.
Esta história está a ser contada não pelos dotes de costura mas por outra história que me ocorreu.
Havia uma outra velhinha que com a ti Stina ia ás feiras e aos mercados vender um bolo que tinha o mesmo aspecto que um croissant mas neste caso mais espesso e naquele tempo ninguém sabia o que era um croissant. Este bolo era de pouco doce, e levava ovos, mel pouco e uma pitada de limão. A verdade é que fazíamos fila para compra-lo. Ainda hoje tenho a imagem destas senhoras vestidas de negro com xaile na cabeça sentadinhas nuns “Mochos” baixos ao lado uma da outra, a tirar os bolos de um cesto que tinham levado à cabeça. O local era na rua ao lado direito da porta de entrada da Igreja Matriz em Proença-a-Nova onde havia uma tasca que vendia sandes de atum em pão farto e com “Champorrion” (isto era café de cafeteira com vinho e açúcar) Naquele tempo nós que tínhamos dez ou doze anos bebíamos estas mistelas doces com álcool como se fosse uma limonada. Possivelmente foi por isso que a minha triste cabeça nunca foi por aí além.
A verdade é que foram bons tempos.
Autor: Sebastião Pires